"Todas as Almas", da editora Alfaguara, parece ir beber a uma vivência biográfica do seu autor, Javier Marías, que viveu dois anos em Oxford como professor de tradução.
Parece, repito, porque estamos no terreno da ficção e o jogo de espelhos entre autor e obra não desilude. O escritor recolheu detalhes, pistas e contextos durante a sua passagem por esta cidade que emprestou à narrativa e carateriza com humor subtil e cruel a cristalizada comunidade académica, usando a franqueza de quem a observou de perto e por esta foi contaminado.
A teoria do mimetismo biográfico ganha força adicional quando o protagonista do livro é também um escritor inominado e solitário, que disserta amiúde sobre as convergências entre a vida e a escrita. Todas as personagens parecem servir este desígnio de auto-observação do protagonista. Até mesmo a jovem professora Clare Bayes, por quem se apaixona, passa a ser um instrumento de contemplação inaugural de sentimentos avassaladores. A observação interna e infetada daquele microcosmo não afunila o universo do romance, pelo contrário, expande-o aos limites da alma humana.
11/12/2019 às 17:30